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Ministro do Desenvolvimento quer menos conservadorismo das instituições financeiras

Nesta entrevista à ISTOÉ, deu logo uma boa notícia: a redução do IPI sobre veículos até duas mil cilindradas será prorrogada em abril. Com a experiência de executivo financeiro, fez uma crítica fundamentada aos bancos comerciais. Apesar das medidas oficiais, o fluxo de crédito demorou a se restabelecer no País, devido ao excesso de conservadorismo do sistema bancário. “Nossos bancos ficaram ainda mais conservadores, mas poderiam contribuir mais no enfrentamento da crise”, disse.


ISTOÉ – Como será o primeiro trimestre?
Miguel Jorge – Será um pouco melhor do que a tragédia do trimestre passado. A percepção da crise só ficou mais clara em novembro e aí houve uma parada muito forte em dezembro, quando tradicionalmente se aumenta o nível de produção para desová-la no final de dezembro, em janeiro e fevereiro. Janeiro foi muito ruim, mas fevereiro já melhorou um pouco e, para março, as indicações são de recuperação em vários setores da economia. As commodities começam a se recuperar, por causa da safra. E a indústria automobilística, neste mês, espera produzir 250 mil veículos, o que é praticamente a produção de março do ano passado.
O impacto de medidas a favor da indústria automobilística sobre o conjunto da economia é muito forte.


ISTOÉ – E o varejo como vai?
Miguel Jorge – As vendas vão bem, principalmente no segmento de alimentos e vestuário, entre outros.


A linha branca deve crescer pouco, mas crescerá. Vai crescer sobre o ano passado, quando o crescimento foi substancial. As tevês de plasma e LCD também têm mostrado números extraordinários, com 100% de aumento. Sobre uma base menor, mas a reação é sintomática.


ISTOÉ – A redução do IPI dos carros será prorrogada?
Miguel Jorge – Falei contra a prorrogação do IPI e todo mundo ficou perplexo, mas estava agindo assim a favor da indústria. Diante da notícia da prorrogação, os consumidores na mesma hora iriam adiar a compra. Realmente as vendas caem.
No dia em que saíram as notícias sobre a prorrogação, recebi vários telefonemas em que o fluxo de pessoas nas revendas já tinha diminuído. Mas deve ser prorrogado. Em fevereiro, com menos dois dias úteis do que no ano passado, produzimos praticamente a mesma coisa que em fevereiro de 2008. Em março, vamos produzir a mesma coisa que em março de 2008. Isso é efeito da redução do IPI.


ISTOÉ – O governo não soube avaliar a real dimensão da crise?
Miguel Jorge – No último trimestre, nossa preocupação primordial foi com o fluxo de crédito para os ex portadores. Além disso, foram tomadas medidas que demoraram para chegar à ponta, como a liberação de compulsório bancário. Mas não se imaginou que não teriam efeito imediato. Muitas delas não chegaram à ponta pelas dificuldades apresentadas pelo próprio sistema financeiro, que ficou mais rígido e mais seletivo na concessão de empréstimos. O sistema financeiro brasileiro gira em torno de um paradoxo. Ele é conservador, mas o fato de ser conservador é que permitiu que fosse mais sólido do que o sistema dos Estados Unidos e dos países europeus. Digamos que o nosso sistema é ortodoxo e o deles é heterodoxo. Isso nos cria dificuldade. Quando há uma situação de crise, ele fica ainda mais conservador. Não avaliamos isso de maneira correta.


ISTOÉ – Com a redução da Selic, é possível os bancos sairem da retranca?
Miguel Jorge – O grande problema é que a redução da Selic não tem o impacto que se imagina. Até porque a Selic não é o único vetor que se toma para se estabelecer os custos financeiros. A inadimplência numa situação como essa aumenta. Até mesmo os bancos oficiais aumentaram muito as provisões para inadimplência. E estão agindo de maneira correta. Mesmo assim, nossos bancos poderiam contribuir mais no enfrentamento da crise.


ISTOÉ – Qual é a contribuição do BNDES nesse processo?
Miguel Jorge – Durante muito tempo, o BNDES teve participação menos importante na economia porque havia crédito muito farto e fácil no mundo todo. Mas hoje a gente sabe por que o dinheiro estava sobrando. Houve uma mudança importante: o BNDES ficou muito mais pró-ativo. Partimos para as empresas e aumentamos as linhas de financiamento para máquinas e equipamentos. Ao não encontrarem mais os financiamentos de longo prazo no mercado internacional, as empresas se voltaram para o BNDES.


ISTOÉ – O repasse de R$ 100 bilhões do Tesouro Nacional será suficiente?
Miguel Jorge – Ajuda muito. Mas não resolve porque, no ano passado, os desembolsos do BNDES chegaram a R$ 90 bilhões. Vamos precisar de muito mais do que R$ 100 bilhões. A entrada de projetos no BNDES diminuiu, mas há muitos investimentos em curso que precisam ser mantidos. Não podemos perdê-los de maneira nenhuma. Assim, se tivermos neste ano R$ 150 bilhões, vamos aplicá-los, sem dúvida. Temos um projeto importante de inovação tecnológica no BNDES. Estamos trocando toda a plataforma tecnológica do BNDES, para preparar o banco para o futuro.


ISTOÉ – Os problemas com as montadoras no Exterior, como a General Motors, podem afetar a indústria brasileira?
Miguel Jorge – Acho que não. São descolados. O pessoal da Toyota esteve comigo e me informou que mantêm os investimentos da nova fábrica em Sorocaba em São Paulo.


O máximo que pode acontecer é uma dilatação do plano de investimento. O empresário Eduardo Souza Ramos também esteve aqui há duas semanas para dizer que ia ao Japão para assinar o acordo de transferência para o Brasil de três novos produtos da Mitsubishi, que serão produzidos em Catalão, Goiás.


Ele disse que a Mitsubishi liberou a empresa dele para exportar para toda a América Latina. Há o caso de uma empresa em dificuldade, com a qual estamos trabalhando, porque haverá um investimento grande numa ampliação de fábrica no Brasil para lançar um novo produto, com investimento pesado. Não estou autorizado a dar o nome da empresa. Aqui ela vai muito bem. E é independente.


ISTOÉ – Há boas notícias também em outros setores da indústria?
Miguel Jorge – Na área de exportação, não se detecta nenhum movimento mais forte. Continua em crise. Mas, no mercado interno, a indústria da construção tem mostrado números muito positivos. Terá um impacto importante o plano de habitação que será anunciado até o fim do mês. De certa forma, pode compensar a perda no mercado externo.


E há muitos insumos da construção que só são produzidos no País. O cimento, por exemplo, tem grande parte da produção feita aqui.


ISTOÉ – No ano passado, o sr. anunciou uma política industrial. Esses projetos foram adiados pela crise?
Miguel Jorge – Alguns investimentos foram postergados. Mas o ministro Edison Lobão acaba de anunciar o interesse da Marubeni de fazer uma nova refinaria da Petrobras no Maranhão, um investimento de US$ 15 bilhões. As macrometas da política de desenvolvimento estão mantidas. Mesmo com a crise, os investimentos atingirão 19% do PIB. Até 2010 nossa previsão é chegar a 21% do PIB.


Daqui a 15 dias, vamos apresentar os resultados da política de desenvolvimento. É evidente que a crise criou problemas. Mas seria muito pior se não tivéssemos a política industrial.


ISTOÉ – Apesar de tudo, os índices de desemprego sobem. E há pressões para atrelar os financiamentos públicos à garantia de manutenção do quadro de pessoal. É possível?
Miguel Jorge – No caso do BNDES, não vejo nenhum sentido nisso. Se atrelar o investimento na ampliação de uma fábrica à manutenção ou ao crescimento do emprego, certamente a empresa interessada se negará a assinar um compromisso desse tipo. É diferente no caso da indústria automobilística, em que os impostos foram reduzidos para impedir que as vendas continuassem Miguel Jorge – A Embraer não recebeu dinheiro do BNDES, quem recebeu foi o comprador do avião.
Mas a pergunta é a seguinte: se o BNDES não financiar a compra do avião, a Embraer venderá seus aviões? Certamente, não. Os bancos de investimento de outros países financiarão os aviões da Bombardier, da Airbus, da Boeing, que concorrem com a Embraer. E vale lembrar também que 93% do faturamento da Embraer vêm do Exterior. Só 7% estão no Brasil, basicamente da venda de aviões executivos.


ISTOÉ – A Embraer poderia ter evitado as demissões?
Miguel Jorge – Não. As encomendas da aviação comercial caíram quase 40%. De cada dez aviões que se havia planejado para 2010 e 2011, estão sendo produzidos só seis. É uma brutalidade. Na encomenda do avião executivo, o Legacy, a queda foi de 60%. E as empresas que cortaram as encomendas são do Exterior, onde a crise é mais séria. A queda de vendas da GM em janeiro nos Estados Unidos foi de 40% sobre um mercado já deprimido.


ISTOÉ – O Brasil está em melhores condições. Mas teme-se que a situação internacional se agrave.
Miguel Jorge – A avaliação é correta. Mas a economia brasileira como um todo tem 86% voltados para o mercado interno, e apenas 14% ligados às exportações. O mercado interno está em crescimento. A nova classe média vai continuar consumindo.


Os economistas têm uma tendência a não ver, por exemplo, um trabalhador vestido de azul e sujo de graxa numa fábrica. Eles partem muito da teoria econômica. A realidade deles é muito teórica. Deviam fazer mais pesquisa de campo. Nos últimos seis anos, dez milhões de pessoas entraram no mercado.


Quando a gente vai para o Nordeste percebe isso com mais clareza. As pessoas estão comprando mais. Em um ano a nova fábrica da Nestlé na Bahia atingiu 100% da capacidade.


Eles estão construindo outra fábrica no Nordeste. Essa nova demanda ajudará o País.


ISTOÉ – A economia brasileira vai crescer este ano?
Miguel Jorge – O segundo semestre será melhor. Já surgem sinais de recuperação na indústria. Se a situação internacional não piorar, estou otimista e acredito que o Brasil poderá crescer cerca de 2% neste ano.

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