A empresa esperava crescer 20% neste ano, mas Cardier diz que deverá “encerrar 2008 com expansão entre 8% e 10% e algo em torno de 3% para o ano que vem.” O executivo não descarta a possibilidade de não crescer em 2009.
A Latina, fabricante de lavadoras semi-automáticas, os populares “tanquinhos”, também está cautelosa. A empresa espera crescer 5% em 2009. Este ano ampliou em 40% os negócios em novos produtos, como purificadores de água e ventiladores, e cresceu 20% em lavadoras. “2008 começou bem e terminou mal”, diz o presidente da empresa, Valdemir Dantas. Apesar da revisão nas expectativas, ele acredita que pode se sair bem, mesmo com a estagnação da classe C. “O consumidor que planejava comprar uma lavadora automática vai se contentar com um tanquinho.”
Para Haroldo Torres, sócio-diretor do instituto Data Popular, os produtos de maior valor, cujas vendas dependem do crédito, serão mais afetados. Mas, na sua avaliação, o sucesso nesse novo mercado depende da capacidade de adaptação. “A classe C deve reconfigurar sua cesta de consumo, migrando para marcas mais baratas.”
Num primeiro momento, diz Marcos Pazzini, sócio-diretor da Target Consultoria, no susto, as empresas tendem a tirar o pé do acelerador. Mas, com o passar do tempo, devem mudar as condições de venda e até a oferta de produtos para não perder esse mercado.
A Positivo Informática, que tem 60% dos clientes na classe C, alterou a linha de produtos para o Natal. Apesar do aumento dos custos em dólar, manteve os preços dos computadores, mas ajustou a configuração das máquinas: os monitores estão menores e os chips, menos potentes. Essa foi a forma encontrada para manter o ritmo vendas, diz o diretor de Marketing, César Aymoré. “Como a posse de computadores entre as famílias de classe C é de apenas 25%, há espaço para crescer.” Mas, na dúvida, a empresa aumentou a produção de notebooks para conquistar o consumidor de maior poder aquisitivo. Há um ano, os notebooks representavam 20% das vendas. Hoje respondem por 30%.
A Living, divisão de imóveis econômicos da Cyrela, alterou os critérios para vender apartamentos. A parcela de comprometimento do orçamento do comprador com a prestação, que era de 30%, foi reduzida para 25%, diz o diretor de Novos Negócios, Antonio Guedes. Ele acredita que a empresa fará uma adequação ao novo cenário, mas ressalta que a participação dos imóveis de menor valor total de lançamentos será mantida em 30%.
SUFOCO
O que preocupa as empresas é a eterna busca pelo equilíbrio financeiro da Classe C. São histórias como a da técnica em enfermagem Vilma Regina Venâncio, de 43 anos, moradora do Itaim Paulista. Ela passou por vários sufocos neste ano e só agora conseguiu colocar as finanças em ordem. Mãe de duas meninas, não conseguiu pagar a escola da mais velha e agora decidiu mudá-la para uma instituição mais barata. “A gente não sabe o que vai acontecer no ano que vem. Aprendi a lição. Vou mudar hábitos e me precaver se os dias forem bicudos,” diz. Vilma acredita que a melhor opção é pesquisar até encontrar produtos baratos. O ano novo também vai começar com mudanças na cozinha. Ela decidiu fazer pequenos cortes nas despesas. “Em vez de comprar um quilo de carne, vou comprar apenas meio”, afirma.
OPORTUNIDADES
A história de Vilma representa não só as preocupações das empresas, mas também as oportunidades. Mesmo com a perspectiva de ter seu poder de consumo estagnado, a importância da classe C não pode ser subestimada, especialmente nas compras de produtos básicos, como alimentos, artigos de higiene e limpeza e vestuário. “Apesar da freada, a classe C não perde sua importância relativa”, afirma Torres, do Data Popular. Segundo o especialista, 31% das famílias estão nessa faixa. E essa camada da população tem maior predisposição ao consumo. Enquanto a classe A poupa 20% da renda, a C guarda só 5%.
Indústria e varejo de alimentos estão atentas para essas mudanças. A Perdigão registrou um aumento de 13% na venda de salsichas. A explicação: como o preço dos alimentos subiu, a Classe C come mais salsicha e menos bife. O diretor financeiro da Perdigão, Leopoldo Saboya, prevê que essa tendência continue em 2009, por causa da queda no emprego e na renda.
“Quem vai sair ganhando será a indústria e o comércio de artigos de vestuário e alimentos”, diz a diretora de Planejamento da agência de publicidade Talent, Mariana Cogswell. Ela observa que, mesmo que o bolo da massa de rendimentos da classe C diminua, esse consumidor vai procurar preservar o consumo de desses itens. “Mas o sonho de ascensão social será retardado.”
Fonte: Márcia De Chiara e Andrea Vialli – O Estado de S. Paulo