Desde o final de 2002, quando ficou claro que o governo Lula seguiria uma política econômica tradicional, o preço do dólar está caindo, com pequenos períodos de elevação passageira.
Por Roberto Meurer*
Uma série de fatores explica esta ocorrência que, como a maioria das situações na economia, apresenta vantagens para alguns setores e perdas para outros.
Entre os fatores que explicam o comportamento de queda do preço da moeda estrangeira estão a elevação exagerada ocorrida em 2001 e 2002, decorrente de problemas com a economia argentina, que ainda influenciava a brasileira, e o temor de medidas heterodoxas na política econômica, que levou à saída de capitais e redução de linhas de crédito. Com a política econômica tradicional, a continuidade do cenário de disponibilidade de capital nos mercados financeiros internacionais e os superávits da balança comercial, que fizeram o país depender menos de capital externo e até pagar grande parte da dívida externa, a entrada de recurso aumentou, o que pressionou o preço do dólar para baixo.
Esta queda de preço, se foi boa para a importação de bens de capital e de consumo, por outro lado tornou menos competitivas as exportações. No caso dos produtos primários a queda foi compensada pelo aumento dos preços desses produtos no exterior. Isto não é tão simples no caso de produtos industrializados, em que a competição é pesada e as empresas tiveram de buscar reduções de custos e renegociação de contratos.
Visando conter a queda de preço do dólar o Banco Central está adquirindo grandes quantidades de dólares, mas o efeito não foi suficiente. Como o custo dessas compras é elevado, porque o governo tem te emitir títulos para reverter o aumento da quantidade de reais gerado pela compra dos dólares, há uma limitação a essas compras. Por isso o Banco Central adotou, no início de junho, medidas que visaram diminuir o volume que os bancos podem operar no mercado de câmbio. Estas medidas, corretas, fazem com que, quando os bancos procuram influenciar o mercado ou reforçam a tendência de queda do dólar, não consigam fazê-lo com tanto fôlego. O que pode acontecer é que a entrada de capitais externos, atraídos pelas boas perspectivas da economia brasileira e os seus elevados juros, seja mais forte que as medidas adotadas.
*Professor de Economia da UFSC e Consultor da Leme Investimentos.