Com grandes recorrendo ao mercado de capitais, empresas pequenas e médias já têm 50% dos empréstimos de bancos
Pequenas e médias empresas abocanharam metade do crédito destinado às pessoas jurídicas pelos grandes bancos privados brasileiros em 2006. Bradesco, Itaú, ABN Amro e Unibanco emprestaram R$ 74,8 bilhões às pequenas e médias empresas brasileiras, volume 25% superior ao de 2005.
Apenas os quatro bancos responderam por 58% do crédito total destinado às empresas. O Santander, outro dos grandes bancos que já divulgou o balanço final de 2006, não publicou os dados de acordo com o porte dos tomadores de empréstimos.
As operações de empréstimo cresceram de forma generalizada no país no ano passado. Mas os dados divulgados até agora demonstram que o crescimento, no caso de pessoas jurídicas, é mais acentuado no segmento de pequenas e médias em todos os quatro bancos.
O maior dinamismo da concessão de crédito para empresas menores fez com que elas fechassem o ano praticamente empatadas com as grandes em participação no total da carteira: elas ficaram com 49,7% do total de empréstimos, contra 50,3% das grandes empresas.
Clientes interessantes
Para Marcel Artoni de Marco, analista financeiro do Inepad (Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração), as empresas pequenas são clientes que interessam aos bancos.
"As grandes empresas oferecem uma série de informações -com muitas tendo capital aberto e sendo avaliadas por agências de "rating'-, que, muitas vezes, as pequenas não podem oferecer. Assim, é normal que as taxas cobradas das pequenas sejam maiores, fazendo delas clientes bastante interessantes", diz o analista.
"Os bancos sempre estarão atentos aos segmentos em que há melhores oportunidades de retornos", afirma Marco.
No caso dos quatro bancos cujos balanços já foram divulgados e analisados pela Folha, há comportamentos muito distintos. Mais de 80% da carteira de empréstimos para pessoas jurídicas do ABN Amro, por exemplo, ficam com pequenas e médias empresas. No caso do Bradesco, elas ficam com pouco mais da metade do volume (51%). Já o Unibanco foi a instituição na qual pequenas e médias abocanharam a menor fatia, cerca de 30,5%.
Mas, ainda que haja diferenças, a participação de empresas menores na carteira de crédito aumentou em todas as instituições em 2006 quando os resultados são comparados com 2005. O ganho ocorreu à custa do volume destinado às grandes empresas, que cresceu mais devagar e, no caso do ABN Amro, chegou a cair 4,5%.
Diversificação
As grandes empresas redescobriram o mercado de capitais (leia texto ao lado), em que podem levantar recursos com menor custo por meio de ações, debêntures e outros títulos. Assim, a redução relativa dos empréstimos para esse segmento na carteira dos grandes bancos não significa que elas reduziram operações, apenas que estão trocando de modalidade de financiamento.
"Muitas empresas maiores têm reduzido a busca por crédito bancário em razão da ida para o mercado de capitais", avalia Alex Agostini, economista da consultoria Austin Rating.
A redução da taxa de juros é o grande motor para o desempenho do crédito. Por um lado, ela barateia o crédito para o tomador. Por outro, à medida que os títulos públicos tornam-se menos rentáveis, os juros em queda levam as instituições financeiras a recorrer mais à concessão de crédito e menos às operações com títulos.
As previsões para 2007 são as de que o crédito para empresas e pessoas físicas continue em alta. O total de crédito concedido pelo sistema financeiro nacional atingiu a marca de 34,3% do PIB (Produto Interno Bruto). Cifra alta para o Brasil, mas bem reduzida se comparada à de países emergentes como o Chile, onde o crédito representa mais de 60% do PIB. No G7, clube dos sete países mais ricos do mundo, o volume de crédito em relação ao PIB fica, em média, em torno de 120%.
"Estamos estimando um crescimento para o segmento de micro, pequenas e médias empresas de 18,5% para o ano de 2007", diz Silvio de Carvalho, diretor-executivo de Controladoria do banco Itaú.
O aumento do crédito e a mudança que ele traz nas carteiras das instituições fazem com que elas atuem com cautela. No ano passado, por exemplo, a inadimplência subiu, o que obrigou os bancos a aumentarem suas provisões para devedores duvidosos.
Mais pequenas e médias empresas, bem como um número maior de pessoas físicas com rendas menores na carteira de crédito, afetam a qualidade das carteiras e exigem um esforço maior de avaliação de crédito das instituições.
Bradesco, Itaú, ABN e Unibanco, sem exceção, chamaram a atenção para a alta da inadimplência quando divulgaram seus resultados nas últimas duas semanas, mas todos avaliam que ela está sob controle e cedendo desde o final do ano passado.
Fonte: Folha de São Paulo